
Mas não é assim que funciona. Aliás, será que os fatores mencionados acima definem quem uma pessoa é ou será?
Nasci na cidade de Santo André/ ABC Paulista. Minha mãe teve três filhas, eu e mais duas meninas, eu sou a do meio. Meu pai, sempre foi alcoólatra e desde que minha mãe engravidou da minha irmã mais velha ela já sofria agressões dele. Foi num contexto assim em que eu cresci, com muitas agressões verbais e físicas. Eu tinha somente uma avó (mãe do meu pai) e meu avô havia falecido devido a um câncer causado pelos vícios da bebida e do cigarro, no ano em que eu nasci.
Mas como toda criança sempre cria o seu próprio mundo, com mais cores e otimismo, eu não fui diferente. Costumava a me dedicar às atividades físicas, das quais eu me dedicaria a minha vida inteira seu eu pudesse. Como nunca tive bonecas para brincar devido a minha família ser de origem simples, sempre brincava de bola com os meninos na rua. Eu adorava!
Mais tarde, no início da minha adolescência, me tornei uma das melhores jogadores de futebol e handebol da minha escola e bairro, modéstia parte, eu era conhecida pela minha habilidade. Participava de campeonatos, corridas de bairro, lutas de judô na escola do meu vizinho que era professor e me dava aulas de graça, enfim, o esporte era a minha vida e a minha fuga.
Eu tinha alguns sonhos como: tornar-se uma jogadora profissional, me formar em Educação física, viajar para fora do Brasil e formar uma família.
Porém, a situação com o meu pai ficou ainda mais insuportável. Ele estava a cada dia mais alcoólatra e violento e não se importava com a família. Morávamos em casas invadidas e sempre nos mudávamos. Até que um dia, minhas irmãs e eu conversamos com minha mãe e pedimos para ela se divorciar do meu pai. Eu tinha 12 anos e me lembro de uma oração que eu fiz naquele dia: “Deus, se o Senhor existir mesmo, faça com que eu não chore mais todos os dias. Amém.” A partir dali as coisas ficaram um pouco melhores. Minha mãe pediu o divórcio e, pelo menos, não havia mais aquele medo de quando meu pai chegava em casa.
Aos 13 anos de idade, minha mãe disse que eu precisava trabalhar porque a nossa situação financeira estava difícil. Tive que parar com o esporte e estudar à noite. Arrumei um emprego em uma microempresa de informática onde trabalhei por cinco anos. Nessa época, comecei a freqüentar uma igreja evangélica. Foi lá onde eu passei a acreditar que o meu passado não, necessariamente, definiria o meu futuro. Foi minha base. Lá eu aprendi sobre o que era caráter, honestidade, bondade, etc.
Mais tarde, os problemas que eu enfrentaria seriam outros. Minha mãe parecia mais perdida em suas escolhas do que as três filhas juntas. Então, decidi que eu não queria mais morar com ela, porque não queria mais viver as conseqüências das atitudes e escolhas erradas dos meus pais.
Na época, eu havia conhecido um rapaz na igreja e estávamos namorando. Nós nos casamos anos depois, aos meus 19 anos. O casamento, infelizmente, só durou dois anos. Éramos muitos jovens, eu, muito sonhadora, mas ao mesmo tempo muito trabalhadora, sempre assumindo as responsabilidades da casa, ele, músico desde criança, nunca tinha um trabalho fixo por muito tempo, filho de mãe falecida e pai casado pela segunda vez em fase de separação por motivos de traição. Você deve estar pensando como isso poderia dar certo, não é?
Não sei o que foi pior, lidar com as dificuldades e conflitos de um divórcio litigioso, ter que enfrentar o julgamento das pessoas dizendo que eu não poderia quebrar uma aliança feita com Deus (algo que eu também acreditava) ou tentar não me convencer de que o meu divórcio tinha alguma relação com o histórico nada exemplar dos meus pais ou com algum trauma de infância que eu pudesse ter.
Foi quando eu repensei sobre os meus sonhos, valores, e tudo aquilo que eu queria para a minha vida.
DEUS, de alguma forma, sempre esteve comigo. Acho até, que mesmo antes de eu conhecê-lo melhor, ele já cuidava de mim e sabendo que eu passaria por tantas dificuldades, me deu uma essência boa. Hoje, eu não acho que todo o meu sofrimento deveria ter sido diferente. Eu tinha que viver tudo aquilo para que hoje eu fosse quem EU SOU. Tenho meus valores, conceitos, tenho a minha ESSÊNCIA.
Ser ou não nascido em uma família bem estruturada, definitivamente, influencia nos aspectos constitutivos, como o afetivo, o relacional, o sociológico, o econômico, o psicológico e o cultural, mas não pode definir ou determinar o que com toda VONTADE queremos SER e ALCANÇAR, a não ser que aceitemos as condições e rótulos impostos por uma sociedade preconceituosa na qual vivemos.
Viviane Brizzi
Vivi, quero ser como você quando eu crescer.
ResponderExcluirUm bjo
Viviane, parabéns pelo seu corajoso relato. Convivi com você por pouco tempo, mas deu para perceber a sua grandeza de caráter e a sua índole bondosa e solidária. Não duvide: você já venceu e vai continuar alcançando novas vitórias. Você é uma grande mulher. Grande beijo e que Deus esteja sempre lhe iluminando e guiando seus passos. Admiro muito você e sou grato também.
ResponderExcluirParabens Vivi por ser simplesmente voce,pois nem com estas adversidades das quais conheço algumas,voce quebrou paradigmas e se tornou uma pessoa boa em essência o que é fundamental tamben percebo pelo fato de vc descrever seu passado que realmente so influenciou de maneira positiva muito bom mesmo... Parabens muita saude paz e sucesso pois com esta determinaçao que lhe eh peculiar voce vai longe simples assim ....bjs T+
ResponderExcluirNão é fácil viver ou ter vivido numa familia desestruturada. Acho que só quem passa é que sabe a intensidade dos problemas e magnitude da dor. Quando meu pai morrer, nao vou chorar por saudades, vou chorar porque nunca tive um pai de verdade, por nunca ter sido chamado de filho, por 27 anos da minha vida ele ter disputado comigo a atençao da minha mae e ter desempenhado na familai o papel que me pertencia, o de filho. Ele é um exemplo para mim, no sentido de não seguir. É um exemplo a nao ser seguido.
ResponderExcluirParabens pela superação diária e ter chegado ate aqui vitoriosa.
Olá querida !
ResponderExcluirAo ler a sua história , lembrei da minha vida pessoal . Nasci em uma família totalmente desestruturada . Minha mãe sofria de lúpus e era muito agressiva conosco , pois , a mesma também vem de família desestruturada . Meu pai também que já veio de família desestruturada , era sempre ausente com várias amantes e batia muito na minha mãe na nossa frente . Quando eu completei 11 anos , passei por dificuldades financeiras em casa devido meu pai gastar o dinheiro com a amante dele . Frequentava a escola com sapato furado , dias de frio , não tinha um casaco , as amigas de turma perguntavam , se eu não sentia frio , eu respondia que não , disfarçando o fato de não ter um casaco . Aos 17 anos , minha mãe faleceu . Meu pai colocou a amante dele para morar dentro de casa . Aos 21 anos terminei minha faculdade e me casei aos 22 anos .
Hoje tenho paz em minha casa , mas , confesso a vc , que sempre me vem à mente as más lembranças que ficaram registradas em minha memória . Desculpe - me escrever tanto , mas me identifiquei muito com sua história .
Agradeço muito ao senhor JESUS , por ter feito tantas coisas boas em minha vida ,e agradeço a ele também , por eu nunca ter feito nada de errado na minha vida , mesmo diante de tantas provações .
Por isso que me apego muito ao salmo 27 em que diz assim : " Quando meu pai e minha mãe me desamparar , o senhor JESUS me acolherá " .
Um grande abraços a todos e a paz do senhor !!!!!!!!!!
Uauh... how challenging was and has been your life history. Never give up. Little head.
ResponderExcluirEstou lutando todos os dias para me tornar uma pessoa cada vez melhor pro mundo e todos em minha volta.
ResponderExcluirMas é muito difícil com uma família desestruturada eu sofro muito com cada membro da minha família e quando acho que tudo começou a dar certo vem uma decepçao maior.